Teoria da Deriva dos Continentes

A Teoria da Deriva dos Continentes tem uma importância muito grande para as geociências. Criada por Alfred Wegener, esta teoria defende que a disposição atual dos continentes não foi a mesma durante toda a história da Terra, isto é, as massas continentais estão em um processo contínuo de movimentação. Após algumas correções, com o aperfeiçoamento de pesquisas e do conhecimento sobre o fundo dos oceanos, atualmente a teoria é considerada um paradigma dentro da geologia e das Ciências da Terra em geral.

Movimentação dos continentes através das eras geológicas

PRIMEIROS INDÍCIOS E EVOLUÇÃO

Desde quando a cartografia começou a se desenvolver, diversos estudiosos já começaram a observar o encaixe aparente entre os continentes Africano e Sul-americano. Nenhuma suposição, dentre as quais levantadas, porém, tinha um teor verdadeiramente científico.

Mapa de encaixe dos continentes, feito em 1858 por Antonio Pellegrini, através de métodos cartográficos

Alfred Wegener, meteorologista e geógrafo alemão, no início do século XX, foi o primeiro a defender a teoria propriamente dita. O cientista fez diversas expedições pelo mundo em busca de evidências que conseguissem ajudar a provar sua teoria, em diversos campos do conhecimento, como na biologia, na geologia e no seu principal campo de atuação, a meteorologia.

O primeiro grande indício que corroborava com a Teoria da Deriva dos Continentes já era conhecido na época. Ao se comparar a distribuição de fósseis de espécies pelo planeta, tanto vegetais como animais, notava-se que fósseis de mesma espécie eram encontrados em continentes que hoje estão separados por milhares de quilômetros por um oceano. É o caso, por exemplo, do Mesosaurus, com fósseis encontrados, somente, na costa leste da América do Sul e na costa oeste da África, ou de plantas extintas do tipo gimnospermas, as chamadas Glossopteris, com fósseis encontrados na América do Sul, na África, na Antártica, na Índia e na Austrália, e em nenhum outro lugar do mundo. Para explicar este fenômeno, porém, os geólogos supunham a existência, no passado, de corredores de terra que ligavam estes continentes. Com o tempo e a ação da erosão, estes corredores teriam sido engolidos pelo mar.

Representação da disposição de fósseis de determinadas espécies sobre o antigo continente da Gondwana

Porém, outras evidências foram buscadas por Wegener para creditar ainda mais sua teoria. Na geologia, ele conseguiu argumentos bastante sólidos. Estruturas idênticas eram encontradas dos dois lados do Atlântico, entre África e América do Sul ou Europa e América do Norte. Um exemplo muito marcante é o caso do Planalto Brasileiro, formado essencialmente por gnaisses que, em seu interior, contém porções de rochas eruptivas. A mesma estrutura também é responsável pela formação dos planaltos na África.

Em sua obra, Wegener descreve que “Tudo se passa como se tivéssemos que juntar os pedaços de uma página de jornal rasgada, baseados apenas nos contornos desses pedaços para somente depois verificarmos que as linhas escritas apresentam uma perfeita concordância”.

Ainda, a paleoclimatologia ajudou a construir um embasamento sólido para a Teoria da Deriva dos Continentes. Naquela época, nenhum cientista sabia explicar o porquê da existência de grandes jazidas de carvão em regiões hoje com clima temperado, como Inglaterra e América do Norte (para a formação do carvão, é necessário, como condição básica, o soterramento de florestas tropicais, só encontradas em regiões de baixa latitude, algo incompatível com a posição geográfica das regiões citadas acima). Também, intrigava os estudiosos a existência de fósseis de geleiras em regiões como a Índia e a África. Além disso, as estrias destas geleiras deixadas nas rochas só fazia sentido quando América do Sul, África, Índia e Austrália eram dispostas juntas, na configuração da Gondwana.

Porém, nenhuma destas evidências conseguiu de fato elucidar as dúvidas sobre a teoria. Especialmente, o fato de Wegener não conseguir explicar que tipo de força era responsável pelo movimento relativo entre os continentes fez com que, até o dia da morte do seu idealizador, a Teoria da Deriva dos Continentes fosse tratada com desprezo no campo científico.

Como iria a crosta continental, maciça, se mover sobre a crosta oceânica, igualmente maciça, sem se romper? E de onde viria a energia para os movimentos destas imensas massas de terra? As primeiras respostas começaram a aparecer após pesquisas do então inóspito fundo dos oceanos.

A COMPROVAÇÃO

Wegener, durante sua vida, não conseguiu reunir um número suficiente de provas para a Teoria da Deriva Continental. Por muitos anos, esta concepção foi deixada de lado no meio científico. Foi somente a partir dos anos 1950 que ela retornaria ao centro dos debates.

Com a Segunda Guerra Mundial, as nações começaram a desenvolver equipamentos para exploração do fundo dos oceanos, com o intuito de melhorar o controle dos seus submarinos de guerra. Tais pesquisas, porém, revelaram algo surpreendente: ao contrário do que se pensava, as rochas que constituem os assoalhos oceânicos não são mais antigas que as encontradas no continente, são na verdade muito mais novas, atingindo poucos milhões de anos (frente aos bilhões de anos das rochas continentais). Além disso, descobriu-se que os assoalhos oceânicos são constituídos por regiões de relevo acentuado, cortados por imensas “rachaduras” encobertas sob as águas, como se a Terra fosse formada pela junção de gomos, como em uma bola de futebol.

Dorsal mesoatlântica. Nesta região, magma é expelido, formando uma nova litosfera

A partir disto, em trabalhos independentes, Harry Hess e Robert Dietz, propuseram uma teoria que explicaria o movimento dos continentes: os assoalhos dos oceanos estariam se expandindo. Nestas rachaduras sob os oceanos (mas também sob os continentes), magma é enxertado do interior da Terra, se solidificando e formando rochas jovens. Cada vez que este processo de enxertamento ocorre, as rochas próximas às rachaduras são empurradas em direção às bordas dos continentes, sendo em seu lugar realocadas rochas recém-formadas. Assim, quanto mais próximas da crosta continental, as rochas da crosta oceânica apresentam idades mais antigas, enquanto as mais recentes são encontradas junto às rachaduras (chamadas, cientificamente, de cadeias meso-oceânicas, quando nos oceanos, ou vales em rifte, quando no continente), regiões de efusão magmática.

Em relação à força responsável por esta movimentação, os cientistas Arthur Holmes e Alexander Du Toit descobriam que, assim como acontece na atmosfera, o magma do interior da Terra também mantinha um constante movimento de convecção, isto é, era movimentado por correntes de magma ascendentes e descendentes que impunham força sobre a litosfera (leia mais sobre as Correntes de Convecção aqui). Este processo, somado à força que as rochas jovens fazem sobre a litosfera na região das cadeias meso-oceânicas, seriam responsáveis pela movimentação das placas.

Porém, se existem regiões de enxertamento de magma, ou seja, regiões de criação de litosfera (limites divergentes), devem, para compensar, existirem regiões onde a mesma litosfera é destruída (limites convergentes). Atualmente, logo, a Teoria da Deriva dos Continentes sofreu um importante refinamento. Ao contrário do que Wegener propunha, os continente não se movem (ou derivam) sobre os oceanos. Na verdade, os oceanos e os continentes, juntos, assim como uma porção do manto superior (que constitui a litosfera), se movem sobre a astenosfera semi-sólida. É neste sentido que surge o conceito de placas tectônicas. Nosso planeta é formado por dezenas de placas que derivam sobre uma região plástica e que se chocam e se afastam relativamente uma a outra, levando consigo as massas continentais.

Placas tectônicas. Notar que são estas placas, e não apenas os continentes, que se movem sobre a astenosfera

Para entender melhor a dinâmica geológica da Terra, o Geografia Opinativa recomenda a leitura também dos artigos abaixo:

– Dinâmica geológica: As correntes de convecção e a isostasia;

Limites entre placas tectônicas: limites divergentes, convergentes e transformante;

Estrutura interna da Terra

Falhas e Dobras

Referências:

TEIXEIRA, Wilson. Decifrando a terra. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. 623p. ISBN 9788504014396

BRANCO, Samuel Murgel; BRANCO, Fábio Cardinale. A deriva dos continentes. São Paulo: Moderna, 2004.

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Meu nome é Fernando Soares de Jesus, natural de Imbituba/SC, geógrafo pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrando na área de Desenvolvimento Regional e Urbano na mesma instituição. Criei este blog ainda no Ensino Médio, em meados de 2013, com o objetivo de compartilhar e democratizar o conhecimento geográfico, desde o campo físico até o campo humano, permitindo seu acesso de maneira clara e descomplicada.

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