As guerras do Líbano

O Líbano é o país com maior diversidade religiosa do Oriente Médio. Após o fim da colonização francesa no país, a paz foi mantida através de uma divisão proporcional do poder pelos três maiores grupos religiosos, respectivamente: os cristãos, os muçulmanos sunitas e os muçulmanos xiitas. Através de um recenseamento feito pelos franceses, definiu-se que os cristãos teriam o direito ao cargo de presidência do país, os muçulmanos sunitas escolheriam o primeiro-ministro e os muçulmanos xiitas o cargo de presidente do parlamento. Este acordo, que teve início em 1943, ficou conhecido como Pacto Nacional e garantiu a estabilidade política do país durante algumas décadas.

Localização geográfica do Líbano

Esta estabilidade começa a ser abalada a partir da década de 1970. Os muçulmanos reivindicavam maior participação no poder do país, visto que a quantidade numérica deste grupo começou a aumentar muito, por conta de razões naturais, mas também pela migração de islamitas refugiados das regiões dominadas pelos israelenses. Os muçulmanos, assim, pediam a realização de um novo recenseamento e, a partir dele, uma reorganização da divisão dos poderes no país.

População libanesa por religião em 2012. Dados: CIA World Factbook.

Outro fator importante a ser levantado é que, no recenseamento original, que ocorreu em 1932 por intermédio das forças colonizadoras francesas, haveria ocorrido uma distorção dos dados, com objetivo de concentrar o poder do país nas mãos dos cristãos maronitas, mais próximos culturalmente da França.

Primeira Guerra do Líbano (1975-1990)

Desta forma, um ambiente de radicalismo facilmente foi instaurado no país. De um lado, as forças cristãs alinhadas ideologicamente à direita política e apoiadas pelo Estado de Israel, que rejeitavam a possibilidade de uma reorganização das estruturas políticas do país, de outro, as forças de esquerda druso-muçulmanas, que defendiam uma melhor divisão do poder. O estopim para o conflito aconteceu em 1975, quando um ônibus com passageiros muçulmanos foi atacado pelo Partido Falangista, de alinhamento cristão. Estava iniciada a Primeira Guerra do Líbano (1975-1990), que colocou cristãos e muçulmanos em lados opostos e teve um saldo de milhares de mortes.

Um elemento importante desta guerra foi a ação do Estado de Israel. Por volta de 1982, enquanto o conflito interno libanês estava a todo vapor, Israel envia tropas para expulsar a OLP, importante grupo palestino, do Líbano. O resultado foi obtido com êxito após dois meses de intensos bombardeios ao grupo rival. Israel retirou suas tropas, mantendo ocupação, porém, em uma estreita faixa no sul do país, chamada de “Zona de Segurança”. Dentro deste contexto, o alinhamento dos cristãos libaneses com os israelenses ficou ainda mais evidente, principalmente com o massacre civil realizado pelo primeiro grupo, com aval de Israel, nos acampamentos palestinos de Sabra e Chatila.

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Questão palestina

Outro país fortemente envolvido neste primeiro conflito foi a Síria. Durante o domínio otomano na região, Síria e Líbano constituíam uma só província, sendo separadas após o esfacelamento do império e o início do controle francês. Assim, a Síria sempre teve interesses no controle sobre o país vizinho. Em 1976, ainda no início da guerra, o governo sírio de Hafez al-Assad invadiu o Líbano em prol dos maronitas, rompendo uma aliança que tinha com os muçulmanos. Mudando de lado várias vezes na guerra, o país conseguiu aumentar cada vez mais sua influência sobre o Líbano.

A intervenção síria foi, em partes, responsável pelo fim do primeiro conflito, com a assinação do Tratado de Irmandade, Cooperação e Coordenação entre os dois países em 1991, onde o exército sírio sustentaria uma frágil paz entre os grupos rivais libaneses. A retirada das tropas sírias no país ocorreu em 2005, após protestos populares e a morte de Hafez. Além disso, houve um aumento do poder político do primeiro-ministro muçulmano, uma das resoluções pretendidas pelos islâmicos do país. A capital do país, Beirute, porém, nesta altura, estava arrasada, e a sua economia estava profundamente abalada.

Segunda Guerra do Líbano (2006)

Em 1982, enquanto Israel ocupava o sul do Líbano, surgiu um grupo extremista voltado à resistência contra a invação israelense, denominado Hezbollah. Este grupo, de orientação xiita, em 2006, promoveu uma série de ataques à Israel, envolvendo sequestros e bombardeios. O país de maioria judia respondeu com a mesma força. O conflito durou cerca de um mês e matou cerca de 1.500 pessoas, além de aprofundar ainda mais as cicatrizes econômicas e políticas deixadas pelo conflito anterior. O cessar-fogo foi intermediado pela ONU.

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Meu nome é Fernando Soares de Jesus, natural de Imbituba/SC, geógrafo pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrando na área de Desenvolvimento Regional e Urbano na mesma instituição. Criei este blog ainda no Ensino Médio, em meados de 2013, com o objetivo de compartilhar e democratizar o conhecimento geográfico, desde o campo físico até o campo humano, permitindo seu acesso de maneira clara e descomplicada.

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