Estudo dos solos (V): Técnicas para conservação do solo

As técnicas agroecológicas têm por objetivo garantir a produtividade de um solo, o protegendo contra os processos erosivos e assegurando sua utilidade nas atividades agrícolas. Tais procedimentos vêm ganhando grande importância nas últimas décadas como elementos fundamentais para a lucratividade do setor primário, dado que os problemas relacionados ao solo têm recebido muita atenção em cenário global.

Dentre as principais técnicas usadas na agricultura, serão destacadas aqui as curvas de nível, o terraceamento, a rotação de culturas, o plantio direto, o consórcio de culturas, a adubação verde e orgânica e a calagem.

Curvas de nível

O cultivo em regiões íngremes sempre foi um desafio. A chuva, quando entra em contato com o chão, por força da gravidade, carrega as partículas soltas da primeira camada do solo, a mais rica em nutrientes, para as regiões mais baixas. Este processo, além de empobrecer uma área antes fértil, pode provocar o assoreamento de rios pelo excedente de solo acumulado.

By Lynn Betts, USDA Natural Resources Conservation Service (http://photogallery.nrcs.usda.gov/Index.asp) [Public domain], via Wikimedia Commons

Uma das principais técnicas para driblar este problema é o uso das curvas de nível. Tal técnica consiste em criar um cultura que siga as ondulações do terreno, em sentido transversal ao relevo, como se estivesse o “cortando”. Assim, a água da chuva vai ter uma grande dificuldade para descer a plantação carregando partículas de solo suspensas, já que vai encontrar sempre uma barreira feita por outra linha de plantio, ao contrário do que aconteceria com um relevo “liso”.

Terraceamento

O terraceamento é uma técnica muito parecida e, muitas vezes, até confundida com as curvas de nível. Porém, existe uma diferença fundamental: no terraceamento, há a criação artificial de “degraus” de plantio, o que não ocorre nas curvas de nível, onde a cultura segue o traçado do relevo.

By User:Doron (Own work) [GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html) or CC-BY-SA-3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/)], via Wikimedia Commons

Este procedimento é muito empregado em países da Ásia, principalmente na plantação de arroz. Sua utilização implica em uma grande e especializada mão-de-obra, em razão da impossibilidade do uso de maquinário agrícola. Pelo cultivo necessitar de um cuidado minucioso, a técnica também é conhecida como agricultura de jardinagem.

Rotação de culturas

A rotação de culturas consiste em uma alternância do produto cultivado em uma determinada área durante o ano. Um exemplo típico no Brasil desta técnica consiste no rodízio entre as safras de milho e soja, que vêm trazendo um crescimento na produtividade destes dois produtos nos últimos anos.

Rotação de culturas na Fazenda Experimental da Universidade de Ciências Ambientais e da Vida da Breslávia. By Lesław Zimny (Own work) [Public domain], via Wikimedia Commons

O sucesso da rotação de culturas pode ser explicado de diversas formas. Primeiramente, devemos lembrar que o cultivo de apenas um determinado produto em uma única área leva a seu rápido empobrecimento. Isto ocorre por conta da necessidade das culturas em absorverem do solo sempre os mesmos nutrientes, o que acaba os esgotando com o tempo.

 

Com a rotação de culturas, se faz possível a renovação dos nutrientes necessários de um período para o outro. Esta alternância é muito comum entre espécies de leguminosas e de não-leguminosas, que necessitam de nutrientes diferentes.
Em casos específicos, algumas espécies de soja, feijão e ervilha são capazes de repor componentes nitrogenados do solo através de um relação simbiótica com algumas bactérias do gênero Rhizobium. A este procedimento feito com leguminosas também é dado o nome de adubação verde.

Plantio Direto

O plantio direito nada mais é do que o cultivo de um determinado produto sobre os restos orgânicos da produção anterior. A matéria orgânica deixada pela primeira plantação transforma-se em um adubo natural, que melhora a capacidade produtiva do solo e conserva seus nutrientes.

Além disso, o plantio direto é de grande utilidade para evitar a erosão. O solo fica coberto todas as épocas do ano, seja pela plantação, seja pelos restos deixados por ela. Isto impede o escoamento de nutrientes e conserva a infiltração de água nas camadas do solo por mais tempo. O Brasil é líder mundial no uso deste sistema.

Consórcio de culturas

Esta técnica consiste no cultivo simultâneo de duas ou mais espécies em um mesmo local. As culturas, portanto, compartilham por boa parte de seu ciclo de vida os recursos do solo, proporcionando um alto grau de interatividade entre as espécies.

Uma grande vantagem do consórcio de culturas é o aproveitamento máximo de uma característica geomorfológica ou climática que ocorra em somente uma época do ano. Um exemplo são as chuvas. Em regiões com estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa, se faz necessário o consórcio de culturas para que o período chuvoso seja largamente aproveitado.

Além disso, este procedimento também garante uma cobertura do solo durante grandes períodos, evitando problemas erosivos, e auxilia no combate à pragas.

Adubação orgânica

A adubação orgânica é o processo onde é aplicado no solo restos orgânicos que não contenham elementos tóxicos ou metais pesados em sua composição. Entre eles, podemos citar: a vinhaça (restos da indústria canavieira), lixo orgânico, restos de animais e vegetais e lodo de esgoto.

A principal vantagem desta técnica é a reutilização de resíduos em que o descarte poderia ser nocivo ao meio ambiente. Além disso, a adubação orgânica garante uma reposição contínua de nutrientes ao solo. Contudo, na maioria dos casos ainda há a necessidade do uso de adubos químicos para complementar a gama de elementos existentes pelo uso do adubo orgânico.

Calagem

A calagem é um procedimento usado para corrigir a acidez de um solo. Em geral, os solos brasileiros apresentam alto grau de acidez, principalmente pela concentração de cátions de hidrogênio e alumínio. Esta característica é resultado da natureza dos solos do nosso país, mas também pela intensa retirada de seus nutrientes das camadas mais superficiais pela agricultura e pela lixiviação. Desta forma, a calagem se faz presente na realidade da agricultura brasileira, responsável em boa parte, inclusive, pela extensão das fronteiras agrícolas pelo cerrado.

Esta técnica consiste na aplicação de calcário no solo, geralmente durante seu preparo, para garantir máxima fixação. Além de diminuir a acidez, esta aplicação aumenta a disponibilidade de cálcio e magnésio para a planta, o que auxilia no desenvolvimento de suas raízes e possibilita mais facilidade na absorção de água e nutrientes.

Maquinário usado na aplicação do calcário. By User:MarkusHagenlocher (Own work) [GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html) or CC BY-SA 3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)], via Wikimedia Commons

É válido lembrar que todas as técnicas citadas acima são complementares para a melhor rentabilidade da agricultura. Na maioria dos casos, é sempre recomendada a combinação de dois ou mais procedimentos.

Estudo dos solos (I): Definição e elementos formadores
Estudo dos solos (II): Perfil e classificações básicas
Estudo dos solos (III): Classificação dos solos brasileiros
Estudo dos solos (IV): Consequências do uso indevido do solo
Estudo dos solos (V): Técnicas para conservação do solo (Atual)

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Meu nome é Fernando Soares de Jesus, natural de Imbituba/SC, geógrafo pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrando na área de Desenvolvimento Regional e Urbano na mesma instituição. Criei este blog ainda no Ensino Médio, em meados de 2013, com o objetivo de compartilhar e democratizar o conhecimento geográfico, desde o campo físico até o campo humano, permitindo seu acesso de maneira clara e descomplicada.

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